Um meio


  Há alguns belos anos atrás, fui com um amigo assistir uma pequena palestra de coaching voltada especialmente à nós quatro.
  Durante a palestra inteira fiquei com o pensamento de: "Que besteira... Já sei de tudo isso, descobri sozinha ainda, não precisei de uma formação. Sei cuidar de mim sozinha".

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  É verdade que, quando você volta seus olhares para dentro de si, faz uma auto análise, tenta, verdadeiramente, se compreender e se enxergar, você se conhece melhor e sabe lidar consigo mesmo.
  Isto não é fácil. Pelo contrário, há de ter coragem para passar por esse processo, pois é um momento em que você encara que tipo de pessoa realmente é. E, se você não estiver disposto a aceitar a pessoa que você é (boa ou ruim), não conseguirá fazer sua própria revolução humana de forms completa. Ainda haverá uma angústia entalada em seu peito.

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  Em alguns momentos, ele parava para conversar conosco para tentar nos conhecer melhor, sobretudo, me conhecer melhor, já que os outros já tinham participado de pelo menos uma palestra anterior.
  Falei sobre meu relacionamento na época, na realidade, falei como estava me sentindo, pelo que eu estava passando (ciúmes, principalmente, mas dito de outras formas).
  Ele me perguntou ou eu falei (não me lembro ao certo) como que eu fazia para lidar com isso: tentando ignorar e tentar melhorar isso ignorando.
  Ele disse que não era assim que eu deveria lidar com essa situação, que não me faria nada bem.
  Com toda a minha arrogância, estava rindo por dentro sobre tudo o que ele estava falando: "Por que darei ouvidos à alguém que mal me conhece, mesmo tendo formação nesta área? Eu me conheço há anos! Sei muito bem o que está se passando comigo e como lidar com isso!".
  Em seguida, ele me mostrou uma imagem de alguns pontos energéticos existentes em nós (ou algo assim), e disse que eu deveria canalizar essas energias para outros focos (se não me falha a memória), e não reprimi-las até passar, como eu estava fazendo.
  Anos depois fui compreender o que ele quis dizer. Nunca tinha acontecido isso comigo sobre algo tão antigo fazer sentido somente anos depois. Só que esse algo me atingiu certeiramente como um golpe de punho cerrado no meio da sua cara. 
  Consegui enxergar isso só depois que minha psicóloga virou para mim e perguntou: "Por que você não está sendo sincera consigo mesma?", e desabei em lágrimas por saber que era verdade.
  Tive, também, a confirmação sobre minha certeza de que meus problemas gástricos estavam (e estão) diretamente relacionados às minhas emoções.
  
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  Talvez alguns não saibam como é ser prisioneiro da própria mente, mas uma coisa eu digo e suplico: se vocês descobrirem que sofrem de algum transtorno, qualquer que seja, por favor, não ignorem isso e finjam que não existe. 
  Estamos vivendo em um século onde os jovens estão adoecendo muito rapidamente... O que me assusta muito.
  Então, se vocês estiverem passando por quaisquer problemas ou transtornos mentais, saibam que não estão sozinhos e, acima de tudo, procurem ajuda profissional. Por favor, não fechem seus olhos para isso.
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  No dia seguinte à consulta com a psicóloga, minha mente já tentou me derrubar do comando, em outras palavras, me sabotar novamente: "Tudo o que ela disse é mentira. Estamos muito bem. Você nunca guardou nada para si e isso nunca te fez mal". Logo que percebi, tentei afastar estes pensamentos de minha cabeça.

  Quando comecei a pensar sobre desde quando eu comecei a ter essa extrema sensibilidade às coisas, percebi que nasci assim. Percebi, também, que desde sempre eu sempre guardei/omiti algumas verdades que eu sabia que magoariam as pessoas de meu convívio (amigos e família).
  Sempre julguei ser 100% sincera, mas também sempre tentei dar justificativas aos meus sentimentos. Por que? Porque eu escondia a causa motriz. Agora eu sei.

  
  Há muitos anos atrás, no fundo, eu sabia que aquilo me incomodava, porém, fui condicionando meu cérebro a ignorar tudo aquilo, porque eu julgava ser algo inofensivo, que, desde que não magoasse as pessoas que amo, estaria tudo bem para mim também.
  Mas não foi o que aconteceu.
  Anos depois, cá estou eu, sofrendo com tudo isso.
  Agora que minha mente já aceitou e compreendeu que eu fazia isso (a pior parte é aceitar um defeito que você nunca nem imaginaria que existiria em ti, e que você tanto odeia...). Agora eu não consigo mais esconder ou segurar nenhum sentimento que antes escondia e segurava muito bem; ninguém percebia. 



. . .



  Hoje eu segurei tanta coisa... Muitas coisas que gostaria de ter dito à ela, mas não tive coragem, e minha mente não me deixaria em paz se ela demorasse algumas horas para responder.
  Engoli em seco tantas vezes, tantas palavras... O ar dessas mesmas palavras tiveram que sair pela minha garganta, pois as lágrimas não foram suficientes para tentar colocar para fora o que eu engoli.
  Duas pessoas vieram falar comigo perguntando se eu estava bem, se eu queria conversar. Assenti e neguei, respectivamente. Eles me disseram que tudo ficaria bem [independentemente do que eu estivesse passando], desejaram-me uma boa noite e foram embora. Tentei agradecer da melhor forms que pude r retribuí a despedida.
  Espero que essas duas pessoas extraordinárias fiquem bem.

  Voltando para o metrô, quase vomitei os líquidos que haviam dentro de mim, porque nenhuma comida fora ingerida.
  Meu estômago agora está berrando, esfregando na minha cara: "Tá vendo o que tenho que fazer quando você engole tudo isso?!".
  A expressão que a psicóloga usou para se referir às coisas ruins que eu engulo foram "Muitos sapos, tóxicos".
  Estou torcendo para não acordar no meio da madrugada e sair vomitando os líquidos e, agora, uma metade de uma baguete de frango.
  Hoje foi terrível.
  Meu estômago nunca tinha ficado tão violento assim por conta do meu emocional.

  Ao invés de ter ficado chorando sozinha naquele estabelecimento há algumas horas atrás, eu queria mesmo era ter ligado pra ela... Perguntado (ou até mesmo acusado) se ela havia esquecido de que tínhamos combinado (tudo bem que foi bem por cima, nem tinha local e horário) de nos encontrar no pós prova e conversar.
  Eu queria ter ligado e perguntado se ela tem me evitado... E por que ela tem me evitado?
  Que eu fingi que não tinha pressa em saber sobre o que ela queria falar comigo, mas eu tinha pressa sim, porque sabia desde o início que não conseguiria esperar nem mais um segundo para saber o que há.
  Porque eu cansei de falar de mim... Por mais que eu passasse [agora] horas e horas pensando reflexivamente sobre mim, eu não queria falar sobre mim!!!
  Ainda estamos nos conhecendo sim, a gente nunca para de conhecer as pessoas que são muito mais próximas de nós.
  Talvez eu tenha assustado ela falando sobre mim... Talvez eu tenha soado muito arrogante, mais uma vez, falando de mim...
  E eu só queria ouvi-la.
  Eu sei que ela tem o passado dela bem como eu tenho o meu próprio passado, mas eu não quero mais falar de mim.
  Sinto que toda vez que saímos juntas, todas as conversas se voltam à mim e aos meus problemas atuais.
  Eu não aguento mais falar sobre isso!
  Agora ela acha que eu cansei de falar sobre o quanto eu sinto sua falta e o quanto eu a amo... Porque ela parece tão fria e indiferente agora... Eu não sei mais o que está acontecendo...

  Eu não sei porquê e do quê eu tenho medo... Não consigo chegar nela e dizer tudo isso.
  Ainda existe algum trauma muito enraizado que me faz ter esse súbito medo e me faz calar, engolir os sapos e sofrer em silêncio (um silêncio visível, agora...).

  Também não sei se tudo isso está só dentro da minha cabeça, e que está tudo bem (devo reconhecer). Não sei se é ela que não quer mais falar sobre saudades e amar, se ela está me evitando pois está sentindo algo que não quer contar, ou se é tudo fruto de minha imaginação.


  Por que eu não consigo dizer...?


  

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